Clube de Leitura

Os super-humanos da ficção científica começam aqui!

O tema dos super-humanos parece tão antigo quanto a própria civilização. Temos “Super-heróis” mitológicos da antiguidade como Hércules, Sansão e Aquiles, por exemplo. Mas se formos ainda mais longe, encontramos Gilgamesh, rei sumério descrito como possuidor de poderes sobre-humanos, 2.000 anos antes de Cristo. 

Se excluirmos Gilgamesh pelo fato de que foi uma figura histórica real (com feitos romanceados e exagerados), o melhor candidato para primeiro super-humano fictício da história seria Enkidu (que também figura na “Epopeia de Gilgamesh”, escrita aproximadamente em 2150 AC). Segundo a lenda, Enkidu foi criado a partir do barro pela Deusa Aruru, nas estepes selvagens da Suméria. Ele possui super força, pode viver entre as feras (tem a capacidade de digerir grama!) e tem resistência sobre-humana. Enkidu é descrito como um “homem peludo” e agressivo, sendo criado para se contrapor ao grande rei Gilgamesh, que na época estava desagradando o povo e os deuses. Quando o aguardado encontro acontece em Uruk (situada no atual Iraque), Enkidu enfrenta o tirano Gilgamesh em um combate brutal e destruidor (algo como Hulk vs Thor!). Mas como eram igualmente fortes, eles se cansam do infindável embate, e no final ambos reconhecem e apreciam a força um do outro, decidindo ser amigos. A partir daí, Enkidu se torna um importante aliado de Gilgamesh, que se redime com seu povo.

Enkidu (retratado com chifres) ao lado de Gilgamesh.

Saltando no tempo para a revolução científica que se intensificou no século XIX, chegamos ao alvorecer da literatura de ficção científica como a conhecemos hoje e, para tratar do nosso tema, devemos citar o livro “A Origem das Espécies” (1859). Da mesma forma que as teorias da Evolução fornecem um contexto imaginativo para histórias de ficção científica sobre a origem do homem e a vida em outros mundos, essas teorias também fomentaram histórias sobre super-humanos criados pela ciência. 

Entre seus estudos, Darwin observou que o formato do bico varia entre as espécies de tentilhões. Ele postulou que o bico de uma espécie ancestral se adaptou ao longo do tempo para equipar os tentilhões para adquirir diferentes fontes de alimento.

Apesar de Charles Darwin deixar claro que a evolução por seleção natural apenas favorece as espécies “mais aptas” ao seu meio ambiente — o que mostra que o caminho evolucionário não significa que os seres rumem para um destino comum, como o da inteligência humana (para Darwin, Homens e Chimpanzés apresentam evoluções bem-sucedidas, apenas seguiram por trilhas diferentes) —, muitos interpretaram erroneamente a ideia de “evolução”, acreditando que os seres vivos caminhariam para um futuro de perfeição antropomórfica, um conceito que ainda abrigava ideias éticas e espirituais — conclusões absolutamente distantes da seleção natural proposta por Darwin. De qualquer modo, a ideia de um “ser humano evoluído” atraiu o imaginário popular, particularmente no fim do século XIX e início do século XX, o que fez os escritores se atraírem pelo tema também.

Hugo Danner é um personagem super-humano, protagonista do romance “Gladiator” (1930), do escritor Philip Wylie.

Os primeiros escritores de FC logo criaram seus super-humanos, imaginando como o “progresso” poderia melhorar a condição humana. Mas nem todos eram otimistas. Na história “The New Accelerator” (1901) por exemplo, o célebre autor H. G. Wells nos fala da invenção de uma substância química capaz de acelerar todos os processos fisiológicos e cognitivos de uma pessoa. Ao tomar o “elixir”, o cientista se torna tão rápido que tudo mais no mundo externo parece quase congelado — o que nos lembra muito os super-poderes do herói Flash dos quadrinhos. A droga “aceleradora” de Wells deveria criar um super-humano, alguém que pode agir, pensar, trabalhar ou estudar mais rápido que todo o resto, mas logo descobrimos que viver no “modo acelerado” também significa envelhecer muito mais rápido (a carreira do “Flash” de Wells seria curta!). 

Os super-humanos velozes de H. G. Wells, em “The New Accelerator” (1901).

É muito fácil amar a noção de um super-homem se acreditarmos que podemos nos tornar super-homens, principalmente por que isso significa estar numa posição de superioridade. O conto The Curious Experience of Thomas Dunbar”, publicado em 1904, é um ótimo exemplo do fascínio que a ideia do super-humano exercia no início do século XX. É uma espécie de história de “superciência” (o termo “ficção científica” ainda não havia sido inventado) escrita por Gertrude M. Barrows. Diferente de Wells, Barrows é otimista sobre o tema e imagina um super-humano que evoca os antigos heróis clássicos, algo que definitivamente agradou o público.

A Curiosa Experiência de Thomas Dunbar na “Biblioteca dos livros impossíveis”

Este conto, apesar de ter sido escrito em 1904, nos parece agora uma história de origem de algum super-herói de quadrinhos, podendo muito facilmente ser transformado em um roteiro para esse tipo de narrativa, tornada tão popular pelos atuais blockbusters cinematográficos da Marvel ou DC. O conto apresenta a história de um homem que, depois de ser atropelado por um automóvel e ficar bastante ferido, é salvo por um misterioso cientista, cujas experiências podem revelar a verdadeira essência da força vital que há em todos os seres viventes. Gertrude foi bastante original ao conceber um dos primeiros exemplos literários em que um homem é transformado em um super-homem graças à ciência — para efeito de comparação, os super-heróis mais famosos dos quadrinhos surgiram bem depois: Superman só viria a ser criado em 1938 e o Batman em 1939 (Aliás, temos um artigo sobre as origens do Superman na ficção científica aqui).

É por essa razão que “A Curiosa Experiência de Thomas Dunbar” será o próximo conto de nosso Clube de Leitura da “Biblioteca dos livros impossíveis”. Os fãs da ficção científica terão a chance de se apreciar essa história rara em uma tradução exclusiva, além de aprender um pouco mais sobre essas ideias precursoras que ajudaram a moldar este gênero literário que tanto amamos. É muito fácil participar…

Como funciona o Clube de Leitura:

  • Para cada ciclo, será fornecido um texto raro, com tradução exclusiva.
  • Os leitores terão informações adicionais sobre o autor, contexto histórico e referências bibliográficas.
  • Duração: 2 semanas de discussões em grupo de WhatsApp e no final temos um encontro virtual via Googlemeet.
  • Início: 19 de junho; final: 29 de junho.

Como participar do Clube de Leitura “A Curiosa Experiência de Thomas Dunbar”:

>Faça um PIX de 3 reais

(chave PIX: rubensangelo@yahoo.com.br) ou pelo QR Code abaixo:

>Após efetuar a transferência, envie o comprovante para o email (rubensgrafico@gmail.com) que logo receberá o PDF do conto, assim como o link para participar do grupo de discussão.

Razões para participar:

  • É a oportunidade de ler algo que normalmente você não teria acesso, porque não está disponível em língua portuguesa.
  • Criar um hábito saudável com a leitura.
  • Trocar ideias com leitores, autores e pesquisadores.
  • Aguçar o senso crítico.
  • É mais barato que um cafezinho!

Nos vemos lá. Boa leitura!

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